
Política
Com tensões internas e busca por protagonismo, fusões e federações movimentam xadrez político rumo a 2026
Legendas buscam musculatura para as urnas e influência no próximo governo

Foto: Kayo Magalhães/Câmara dos Deputados
Quatro partidos de centro-direita que comandam parte expressiva do Congresso, governos estaduais e prefeituras brasileiras estão em processo de fusão ou federação, o que deve alterar a correlação de forças para as eleições de 2026. A mais robusta das articulações une União Brasil e Progressistas (PP) em uma federação — apelidada de "União Progressista" — que, somando bancadas, vai formar a maior força do país em número de deputados, senadores e prefeitos.
Já PSDB e Podemos preparam uma fusão para evitar o colapso. Enquanto os tucanos definham depois de longos anos disputando o protagonismo político no país, o Podemos vem apresentando crescimento modesto. A fusão é vista como uma tentativa de não desaparecer do mapa político — e seguir recebendo verba do fundo partidário e tempo de TV.
O deputado federal Adolfo Viana (PSDB), presidente da federação PSDB/Cidadania na Bahia, explicou que a decisão de buscar uma fusão com outros partidos surgiu após uma análise do desempenho recente da legenda. “Houve uma perda significativa da nossa bancada na Câmara, perdemos o governo de São Paulo e sequer tivemos um candidato competitivo à Presidência na última eleição. Diante desse cenário, começamos a dialogar com grandes partidos de centro em busca de uma fusão. O PSDB buscava recuperar musculatura no Congresso Nacional para voltar a ter protagonismo na política brasileira”, afirmou durante entrevista à Rádio Metropole.
Força para chegar lá
Fusões e federações são mecanismos diferentes, mas ambos permitem que partidos unam forças e, com isso, superem a cláusula de barreira: uma espécie de filtro legal que define quais siglas têm o a dinheiro público e espaço na propaganda eleitoral. No caso das eleições proporcionais (para o Legislativo), são somados os votos dos partidos integrantes e aplicado os quocientes eleitoral e partidário. Assim, a federação pode ajudar legendas menores a chegar ao número de votos necessários para uma cadeira nas Casas Legislativas.
Experiência baiana reforça peso das federações
Na Bahia, a federação formada por PT, PV e PCdoB é considerada uma experiência bem-sucedida, especialmente nas eleições gerais. O presidente do Partido Verde na Bahia, Ivanilson Gomes, avalia que, apesar dos desafios no pleito municipal, o saldo político e eleitoral foi positivo para os três partidos.
"Nossa federação foi uma experiência positiva para os três partidos, sobretudo nas eleições de 2022, onde todos os partidos federados elegeram os seus parlamentares, nós ficamos com a bancada de cinco deputados, quatro deputados estaduais e um federal. PCdoB também fez uma bancada expressiva e, obviamente, que o PT também", afirmou ao Metro1.
Sobre o desempenho nas eleições municipais, ele reconhece dificuldades: "tivemos mais dificuldades, mesmo assim todos os três partidos, ao final, foram beneficiados. O PT aumentou o número de prefeitos eleitos em relação à eleição ada, o PCdoB da mesma forma e nós também do PV, que não tínhamos nenhum prefeito e amos para quatro gestores, dois homens e duas mulheres".
Para Ivanilson, a federação vai além de uma soma de votos. No caso do PT, PV e PCdoB, ele acredita no fortalecimento das ideias desses três partidos. "O conceito de federação não é o conceito de coligação. É o conceito de você federar partidos que tenham minimamente identidades próximas", chama atenção.
Caminho sem volta
Federações exigem convivência mínima de quatro anos entre os partidos e impedem candidaturas separadas dentro da mesma aliança. Já as coligações, que hoje são permitidas apenas na disputa de cargos majoritários, extinguem-se automaticamente após o pleito. Enquanto isso, a fusão é definitiva: as legendas deixam de existir de forma independente e formam uma nova sigla, com recursos e estrutura unificados.
Na prática, essas alianças favorecem partidos que, sozinhos, teriam dificuldade de manter relevância política ou o a recursos. É o caso do PSDB, que enfrenta a pior crise da sua história. Do outro lado, PP e União Brasil, juntos, devem se tornar peças centrais na disputa presidencial de 2026 — com nomes como Ronaldo Caiado e Tereza Cristina no radar.
A tendência é que essas alianças tornem as eleições mais competitivas e concentradas. Com menos partidos em jogo, cresce a disputa interna por espaço e por nomes capazes de atrair grandes votações. Para o eleitor, isso significa menos opções — e mais acordos nos bastidores.
Desafios internos e limites de convivência
O deputado federal Paulo Azi (União Brasil), presidente da Comissão de Constituição e Justiça, defendeu a federação como um o para enxugar o número de siglas no país e dar mais consistência ao sistema partidário. Deixou claro que a nova aliança terá posicionamento definido, e que aqueles que não se sentirem confortáveis com as diretrizes devem se afastar. Isso deve gerar tensões, já que a base do PP na Bahia tem nomes que apoiam o governador Jerônimo Rodrigues (PT), enquanto o União é oposição. Para Azi, não haverá espaço para parlamentares que pretendam apoiar o governo do PT em 2026 — quem quiser seguir por esse caminho, segundo Azi, que o faça fora da federação.
Presidente do PP na Bahia, o deputado federal Mário Negromonte Jr. (PP-BA) reconhece que a federação já nasce com desafios significativos, principalmente por essas diferenças regionais entre os dois partidos. Ele avalia que a convivência entre projetos e visões políticas distintas exigirá equilíbrio e diálogo constante. Sem isso, o risco de desgaste e até de rupturas internas é real. Apesar de integrar a nova composição, Negromonte Jr. reforça a defesa da independência do Progressistas dentro desse arranjo.
O cenário é semelhante na fusão entre PSDB e Podemos. Enquanto os tucanos são oposição ao governo na Bahia, o Podemos é base do governador. Adolfo Viana defende o mesmo posicionamento de Azi: “a fusão se consolidando, a gente tem que tomar um rumo [...] e naturalmente, aqueles que não ficarem satisfeitos com o rumo terão a janela partidária e a possibilidade de mudar”.
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